Light Blaster: Immaterial Membrane - Christian Moeller
http://www.christian-moeller.com/display.php?project_id=14
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O primeiro deles é o flâneur (palavra que no último ano, assim como meus colegas, ouvi à exaustão). Figura errante e descompromissada é muitas vezes confundida com um simples vagabundo. No entanto, o flâneur é acima de tudo um observador/admirador que, passeando junto às multidões, percorre todos os espaços da cidade, fazendo disso matéria-prima de suas críticas e/ou inspirações. Muito desenvolvida por Baudelaire no final do século XIX, inspirado também pelo conto “O homem das multidões” de Edgar Allan Poe, a flânerie influenciou centenas de artistas pelo mundo, como o
brasileiro (que me cansou muito, mas não menos interessante) João do Rio. Em 1962, em seu ensaio “Sobre alguns temas em Baudelaire”, o filósofo Walter Benjamin analisa estes aspectos da poesia baudelaireana, para ele, “dar uma alma a multidão é o verdadeiro objetivo do flâneur”. O poema “A uma passante”, um dos mais populares de Baudelaire, é exemplo claro, da influência que o poeta sofria da cidade:
A rua em derredor era um ruído incomum,
longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;
Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala o frenesi que mata.
Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei um dia e já na eternidade?
E para Benjamin “o significado do soneto numa frase é o seguinte: a aparição que fascina o habitante da metrópole – longe de ter na multidão somente a sua antítese, somente um elemento hostil – é proporcionada a ele unicamente pela multidão”.
Em um segundo momento temos a deriva, estratégia surgida na década de 60 dentro do grupo Situacionista. A deriva correspondia ao caminhar sem rumo, porém, enquanto o flâneur se interessava prioritariamente pelas multidões, os Situacionistas viam na arquitetura e no urbanismo os pontos de partida para suas concepções estéticas. Nas palavras do próprio grupo “(a deriva) se mistura à influência do cenário. Todas as casas são belas. A arquitetura deve ser apaixonante. Nós não saberíamos considerar tipos de construções menores. O novo urbanismo é inseparável das transformações econômicas e socias felizmente inevitáveis”.
O que surgiu como um movimento artístico, aos poucos tomou contornos políticos revolucionários, sendo o urbanismo um dos pontos de maior crítica. Para eles qualquer construção dependeria da participação dos cidadãos, o que só seria possível com uma verdadeira revolução cultural, já que o planejador não conseguia captar as reais aspirações da sociedade, “se o planejador não pode conhecer as motivações comportamentais daqueles a quem ele vai proporcionar moradia nas melhores condições de equilíbrio nervoso, mais vale integrar desde já o urbanismo no centro de pesquisas criminológicas”.
Enfim um fenômeno tipicamente contemporâneo, o parkour. Esporte praticado nas cidades, definida por seus praticantes “de arte do deslocamento”, que utiliza várias capacidades do corpo humano para se movimentar no espaço, saltando, se equilibrado e correndo, “dominando” assim, objetos e edifícios.
Mesmo não possuindo um propósito estético (a priori), o parkour se assemelha tanto ao flâneur quanto à deriva: o primeiro se encontra na percepção dos espaços públicos (da cidade como um todo – incluindo seus habitantes) a serem utilizados e o segundo, ao uso e à apropriação de fato para a prática do esporte.
Pra finalizar, vale lembrar o que Nietzsch em Ecce Homo disse: “Estar sentado o menos possível; não confiar em nenhum pensamento que não tenha nascido ao ar livre e em plena liberdade de movimentos”.
A escolha do nome BABA ARQUITETÔNICA remete à longínquos tempos de minha existência (na verdade pouquíssimo tempo) onde a obsessão pela obra de Lygia Clark nomeou a primeira tentativa de conduzir um blog.
BABA ARQUITETÔNICA faz referencia direta à proposição (como a artista gostava de chamar) Baba Antropofágica criada por Lygia em 1973 quando lecionava Comunicação Gestual na Sorbonne. Nascida em Belo Horizonte em 1920, Lygia foi uma das mais instigantes e interessantes artistas brasileiras, sendo um dos nomes mais representativos do Grupo Frente e do Neoconcretismo.
"[...] Lygia Clark acreditava que arte e terapia psicológica andavam de mãos dadas. Tanto que, com base em objetos manuseáveis que criava ou recolhia da natureza, como balões de ar, sacos de terra e água e até pedras, pensava ter o dom de curar os males da alma. Certa feita, uma aluna entrou em transe profundo e caiu desmaiada, durante uma das sessões de arteterapia de Lygia na Sorbonne, em Paris, na década de 70. Dando graças a Deus que não era nada grave, a artista explicou que a jovem não tinha preparo psicológico necessário para suportar os exercícios de sensibilização e relaxamentos, que 'liberavam os conteúdos reprimidos e a imaginação' dos alunos.
Aqueles instrumentos, que nas mãos de Lygia assumiam poderes imprevisíveis, eram chamados por ela de Objetos Sensoriais. Tais objetos nunca foram vistos com bons olhos por psicanalistas franceses e brasileiros, porque ela não tinha formação acadêmica na área. Lygia, por sua vez, não deixava ninguém sem resposta. Comprava briga com qualquer um que ousasse falar mal de seu trabalho, que tinha por trás conceitos dos mais sofisticados, elaborados por ela mesma.
[...] Corajosos eram os que se atreviam a frequentar suas sessões de arteterapia na década de 70. Segundo Lygia, seu método para a 'liberação dos conteúdos reprimidos' era tão eficiente que homossexuais viravam heterossexuais e vice-versa."
In, Istoé, "O brasileiro do século"
Blog destinado aos trabalhos das disciplinas de Plástica e Expressão Gráfica e Informática Aplicada à Arquitetura, do 1° período de Arquitetura e Urbanismo da UFMG.